domingo, 1 de fevereiro de 2015

Divã


Já não consigo escrever poesia, só prosa.
Me sinto num divã 24 horas por dia.
Se o taxista, o porteiro, a vendedora da loja, ou qualquer outro que esteja simplesmente fazendo o seu trabalho, me der um sorriso, um “oi”, ou tiver o azar de trocar olhares comigo... acho que vou despejar toda essa minha tralha emocional sobre o(a) coitado(a).
E você deve achar que tá fácil pra mim, afinal, eu escondo toda essa energia pesada de você, finjo que não ligo, finjo que sou legal, finjo que essa sua indiferença não me faz mal…
Mas aquele funcionário do supermercado trajando um colete “posso ajudar?” com certeza viu os meus olhos se encherem de lágrimas ao avistá-lo na sessão de legumes.
Ah, se não tivesse uma senhorinha perguntando pra ele se tinha abobrinha mais bonita no depósito…
Isso que você fez comigo!
Você tirou de mim a poesia, agora vivo uma novela mexicana que só eu ainda assisto.
Tenho que me controlar pra não fazer de psicólogos os funcionários das mais diferentes redes de supermercados.
E essa confusão que mora em mim foi você quem plantou.
E eu acho que você nem sabe que é encantador, por isso eu te desculpo, aliás, nem te culpo.
Você nem deve ler isso de qualquer forma porque a sua vida seguiu. Só a minha continua aqui, esperando pelo próximo capítulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário