quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Uma foto diz mais que mil silêncios

Você me manda mensagens como se pedindo para que eu me lembre da sua existência, como se eu tivesse esquecido algum dia.
Eu não canto para todo mundo, mas eu cantei para você, e eu pensei que você não fosse perceber, mas você veio me dizer que adorou.
Você praticamente agradeceu.
Você sabe que eu não cantaria aquela música pra mais ninguém.
E eu agradeci, não os elogios, mas você, por tê-los feito.
E você me pergunta se eu estou bem.
Eu não quero responder.
Então eu procuro um jeito de dizer que não, sem que você me pergunte o porquê.
Não encontro.
Resolvo responder mentindo que tá tudo bem, e devolvo a pergunta pra você.
Passa um dia, dois dias, uma semana e você não me responde.
A resposta vem de uma foto.
Que nem foi você quem tirou.
Ela diz que você está muito bem, obrigada.
Ela diz: “ele está em meus braços, não se preocupe, eu vou cuidar bem dele.”
Ela diz tudo o que você não me diz.
Como não veio resposta da sua boca, eu me contento com o que a foto diz.
Que você siga feliz.

sábado, 22 de agosto de 2015

Sobre simplificar

Não me vejo te amando.
Não te amei. Não te amo. Nunca te amarei.
Mesmo assim, pensando em você agora me deu muita vontade de te ver.

Soa louco, né?
Principalmente se a gente for considerar que eu recusei todos os seus últimos convites.
Honestamente, eu cogitei não te ver nunca mais.
Até porque, a gente não tem nada a ver.

As nossas conversas eram entediantes, eu odiava ouvir sobre as suas ex-namoradas, ou sobre o seu pai te dando esporro por mais um arranhão no carro, ou sobre a sua faculdade que você ama odiar.

E eu sei que tudo o que eu falei pra você sobre o último livro que eu li te deu sono, aliás, tudo o que eu dizia te dava sono.
Eu sempre achei uma falta de educação tremenda o fato de você nem ao menos tentar tampar a boca ao bocejar enquanto eu discursava apaixonadamente sobre coisas que você fingia escutar.
"Finge que presta atenção direito, porra!" - era o que eu queria te falar.

Não acho que essa ânsia por te reencontrar seja carência.
Até porque, existem opções mais próximas à minha localização, e que dialogam melhor que uma porta, que, no caso, dialoga melhor que você.
E eles não são de se jogar fora.

Mas o seu sorriso é maravilhoso e sobre o seu beijo, eu nem preciso comentar.
E apesar disso nunca ter me bastado, e da minha plena consciência de que isso não me basta nem nunca me bastará, hoje eu pensei em você o dia inteiro.
Engraçado isso, porque eu não me lembro do que você falava, ou do que te fazia rir, mas eu me lembro direitinho do som da sua voz, do som da sua gargalhada...

Então a gente pode fazer assim:
Me encontra amanhã, no mesmo lugar de sempre.
Quando a gente estiver andando, não precisa me dar a mão, eu odeio a sua mão suada.
Também não precisa limpar o carro, já te disse que eu cago pra isso.
Não precisa nem dizer que eu tô linda.
Mentira, diz sim, eu devolvo o elogio sorrindo e você retribui com aquele seu sorriso lindo.
Me encontra lá, tá?

Beijo e até amanhã.


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

É preciso desprecisar




Sempre odiei tudo o que escrevi.
Se não achava estúpido ou pobre ou exagerado ou insuficiente, achava fingido.. 

Foi aí que Manoel de Barros entrou na minha vida.
Me fez ver o quão pragmática e quadrada eu sou.
Me fez ver como eu estava equivocada ao tentar engaiolar as palavras a fim de fazê-las cantarem só para o meu bel prazer.
Não é preciso muito esforço para entender o porquê de conseguir tirar delas somente canções desesperadas.
Nas palavras eu conseguia ver somente uma vontade louca delas de fugirem de mim.

Observei a forma como Manoel deixava as palavras voarem livremente.
Com ele, as palavras ilimitam-se.
A poesia de Manoel de Barros não é gaiola.
A poesia dele é árvore. 
E as palavras pousam na árvore de forma tão natural quanto bela.
Livro sobre Nada é o livro sobre o desimportante.
Manual sobre como desprecisar.

Escrita boa não é pretensiosa.
Porque a pretensão pesa nas palavras.
E palavras pretensiosas pesam nos galhos das árvores.
Palavras-passáros transformam-se em extensões da árvore, mas se estiverem pesadas, se quebram os galhos, não são extensões, são diminuições.
E a alma depois do poema quer se expandir, não quer?
Nem que seja expandir pro vazio. E vazio não é diminuição, entendam. Melhor, sintam:

O menino que carregava água na peneira (Manoel de Barros)


Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.


O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Sobre caminhos e pessoas



Até ontem eu tava louca!
Queria responder aquela mensagem de três dias atrás dizendo que eu menti, que eu não tô legal.
Mas não tive tempo pra isso.
Tantas coisas acontecendo, e tantas outras que eu tenho feito acontecer.

Lógico que de vez em quando eu parei e pensei em você.
Juro que eu pensei que a melancolia ia tomar conta, e ela até que tentou.
Bateu na porta e eu até cogitei abrir pra gente tomar um café, um chá, um vinho, quem sabe.
Mas o sol nem pediu licença, invadiu pela janela, iluminou, aqueceu e não me deixou só em momento nenhum, a melancolia pegou carona e adentrou o lar, mas se escondeu nas sombras, que obviamente, toda luz projeta em ambientes não-vazios. Manteve-se ali, escondida, observando o brilho do sol e entendeu que estava ali somente para equilibrar.

Não, eu não estou a jogar o jogo do contente.
Admiro a Pollyanna, mas depois de uns tombos feios e outros nem tanto, aprendi que algumas dores a gente deve tentar aliviar, e outras a gente deve sentir, mas nunca inventar dor onde não há.

Não dói.
Eu ainda tô no ar, ainda não caí, e se bobear nem vou.
E se eu entender o mecanismo da queda à tempo? E se eu parar com os dois pés no chão e sem nenhum arranhão?

Eu acho que relacionamentos dolorosos e sofridos são superestimados.
Eu acho que relacionamentos deveriam focar pura e simplesmente no relacionar.

A gente tá andando, não necessariamente na mesma direção, não necessariamente em direções opostas, não necessariamente um de encontro ao ou outro estamos apenas andando.
De vez em quando a gente se esbarra por aí, da mesma forma que esbarra em tantas outras pessoas diariamente.

E você é uma pessoa!
Não é só mais uma pessoa, jamais será.
Mas você não é caminho. Você é uma pessoa.
Se fosse caminho, eu logicamente ficaria perdida se você sumisse do meu campo de visão.

Mas você é pessoa!
Daquelas que eu quero dar um abraço apertado quando vejo, daquelas que eu me lembro enquanto caminho e que às vezes caminham do meu lado, daquelas que mesmo sem que eu veja eu sei que não vão sumir nunca, daquelas que me fazem saudosa quando não estão aqui, daquelas que durante o caminho todo eu torço para encontrar e reencontrar.

Um caminho é necessário.
Sem um caminho ninguém é nada.
Pessoas não são necessárias.
Pessoas não estão na nossa vida por necessidade.
Estão porque a gente quer que elas estejam.
Estão porque querem estar.

Você não é caminho.
Você é pessoa.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Sobre florescer


Você foi o príncipe do cavalo branco que eu tanto esperei, mas eu não consegui despertar do meu sono profundo, nem depois do beijo.
Mas você plantou uma semente.

Para você, esse solo era infértil.
Você não observou direito, não foi paciente, não viu que existia ali, a possibilidade de florescer,  por isso foi semear outros solos.
Mas eu floresci.
Floresci tarde demais, mas floresci.
Floresci flores tímidas, discretas, mas floresci.
Floresci quando você já não estava aqui, mas floresci.

Você não regou as minhas flores, por isso elas murcharam, para em seguida, caírem.
Eu cheguei a pensar que já não tinha mais jeito: aquele era o fim.
Mas meus caules e folhas, ainda verdes, foram o suficiente para chamar a atenção de uma esperança que resolveu descansar naquele canteiro zumbi.
E essa esperança estava guiando um rapaz que há tempos havia se perdido.
Ela fez com que ele cuidasse do canteiro

Ele prometeu à esperança que viria todos os dias espantar as pragas e regar a planta, se em troca ela continuasse ajudando-o a encontrar o seu caminho.
Assim, dia após dia, o rapaz veio me visitar.
Até que um dia eu floresci de novo.

As minhas pétalas eram dessa vez mais fortes.
O aroma que saía delas era menos adocicado que o das anteriores, portanto mais sutil e agradável. Suas cores já não eram monocromáticas, à primeira vista não era possível definir a cor delas, e mesmo à uma segunda vista, não era fácil dizer quantas cores haviam ali.
As flores se pegavam "cantando sem mais nem porquê" como diria Chico.

E foi numa dessas que você, em um de seus raros passeios matinais, ao ouvir tal cantoria, resolveu se aproximar para ver do que se tratava.
A cada passo sentia certa familiaridade com o lugar, até lembrar-se que de fato já estivera ali. Aliás, já jogara uma semente ali.
Foi aí que se surpreendeu;

Deparou-se com um canteiro cheio de exuberantes flores.
Perdeu a fala.
Não podia crer que a semente que havia jogado ali, sem compromisso algum, resultara em flores tão lindas.
Quase que numa tentativa de compensar o tempo perdido, quis regar flores tão lindas.
Mas trazia consigo apenas o regador que usava para regar um outro canteiro de flores que certamente se enciumariam caso soubessem que aquele regador regara outras plantas.

Nessa hora, o rapaz da esperança chegava para mais uma de suas visitas diárias, munido do regador que usava especificamente para as minhas flores, não porque elas se enciumariam de outras, mas porque não haviam outras flores, aquelas eram as únicas das quais cuidava.

Ele já não regava e espantava as pragas em troca de encontrar o seu caminho.
"A esperança me mostrou que o meu caminho é esse que eu faço todos os dias, sem falta, da minha casa até este canteiro de flores, e todos os dias, ao encontrá-lo, eu me encontro." - já havia percebido o rapaz.

As flores, ao verem o rapaz, coloriram-se ainda mais, perfumaram-se ainda mais, conseguiram embelezar-se ainda mais.

O semeador não continuou ali por nem mais um minuto.

O rapaz da esperança permaneceu ali, mesmo quando era outono.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Medo de tudo, medo do nada.


E se eu te disser que eu tô com medo?
Parece que a qualquer momento alguém vai me roubar de você.
Eu que era tão sua até outro dia.
Eu que estava tão apaixonada pela ideia de ter você me chamando de "minha".

Me sinto insegura, indecisa.
Parece que a possibilidade de eu não te ver de novo se torna cada vez menos assustadora.
Parece que logo logo eu vou me esquecer de tudo.
E quando eu digo tudo eu falo sério.

Se esse presságio se consumar, em alguns meses talvez o milagroso fato das nossas vidas terem se cruzado se tornará algo que nenhum de nós dois sentirá necessidade ou vontade de lembrar.
Como vai ser quando alguém falar o seu nome perto de mim e eu pensar no primo de 3 anos da minha vizinha em vez de pensar em você?

O gosto do seu beijo, que vinha do nada, nos mais aleatórios momentos do dia, me fazendo parar o que quer que eu estivesse fazendo, eu sinto cada vez mais fraco, cada vez menos desnorteante.
A minha blusa com o seu cheiro eu já lavei três vezes, o perfume que eu sinto é puro fruto da minha sinestesia.

Eu tenho tentado alimentar algo que não tem fome de nada.
Na minha ingenuidade, cheguei a pensar que o problema estava no alimento, nunca em mim, nunca em você.

Apesar de sempre achar que 24 horas é pouco demais para o que exigem da gente em um dia, cada hora longe de você pareceu infinita, e de infinito em infinito eu cheguei até aqui.

E você bem sabe que eu sou obcecada por tudo que questiona a rigidez da distância e do tempo.
Você sabe.
Eu te contei.

Você sabe e mesmo assim o fato de eu estar aqui e agora prestes a discursar sobre a Teoria da Relatividade não te diz nada.
O fato de eu ter medo de não sofrer por não mais te ter na minha vida não te diz absolutamente nada.

E a nossa geração acredita mesmo nisso: não sentir nada é a resposta para tudo.
A gente não entende que anestesia é só pra quem sente dor.
Mas ninguém sente dor, somos todos viciados em anestesia.
E, meu amor, no final é isso o que dói mais:
Pensar que a gente não sentiu nada.
Nem dor sentimos.
Não sentimos nada.
E mais do que tudo, o nada me amedronta.

A minha avó, que é de outra época, disse que o tempo cura tudo.
Mas há algo aqui que precise ser curado?
Talvez os meus medos.
Mas tempo é algo tão relativo.
O tempo pode ser tudo.
O tempo pode não ser nada.
E no momento eu tenho medo de tudo e eu tenho mais medo ainda do nada.
Eu tenho medo do tempo.













domingo, 21 de junho de 2015

Promessa: meus diálogos imaginários com Freud


Penso, penso e penso, e não consigo encontrar formas de explicar o que eu sinto.
Talvez seja um sinal de que eu não deva.
Até porque eu não sei.

Mas as vezes me bate uma aflição, porque eu sempre tive necessidade de colocar os pingos nos i's. Um i sem pingo é algo difícil de compreender, me fazendo até mesmo duvidar de que aquilo é um i, e se nem uma letra for? Vai que é só um traço vertical? Vai que é um algarismo 1 que se esqueceu de crescer...
Sabia que nos alfabetos turco, azeri e tártaro existe o i sem ponto? É o ı, cujo simbolo fonético é até diferente do nosso i normal (ı = /ɯ/).
(Dá só uma olhadinha na wikipedia para maiores informações > https://pt.wikipedia.org/wiki/I_sem_ponto< ) 

Tá, eu tô forçando a barra.
É lógico que dá pra entender quando é uma letra i pelo contexto.
Qual seria o sentido de um traço na vertical ou de um filhote de número 1 no meio de uma palavra?
E a gente fala português! Não turco, nem azeri, nem tártaro.
Não é?

É!
Acho que todo esse surto, que me levou a digitar "i sem pingo" no google, me fazendo descobrir a existência de duas línguas turcomanas até então desconhecidas (azeri e tártaro), aliás, poderia ser explicado por Freud.
Ele diria que eu estou me reprimindo e isso reflete no meu histórico de pesquisas do google.

Segue o diálogo imaginário que tive com Freud, meu psicanalista particular:

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Eu: Mas me reprimindo de que, Freud, espertinho?

Freud: Minha cara, vamos recapitular? Qual é o motivo da sua leve histeria?

Eu: Bem, eu estava falando sobre como eu pensava, pensava e pensava em formas de falar o que eu sinto...

Freud: Exatamente! Pensar em formas de falar o que você sente, já sugere que você quer falar o que sente.

Eu: Mas, senhor, querer não é poder nem conseguir.

Freud: Exatamente! É esse querer e não poder nem conseguir que é objeto de estudo da minha teoria sobre repressão psicológica.

*digito "repressão psicológica no search do google, clico no primeiro link e ele me redireciona para <https://pt.wikipedia.org/wiki/Recalque_(psicanálise)> *

 Eu: Senhor, li a sua teoria sobre repressão psicológica na wikipedia e eu acho que o senhor está levando tudo isso ao extremo. Era só uma coisinha de lev...

Freud: Coisinha de leve que te levou a me invocar.
Saiba mocinha, que sou muito ocupado, a wikipedia também é.
Aliás, a senhorita não deveria estar ocupada estudando para as suas provas, trabalhos e seminários? Final de período está aí e a senhorita brincando...
Duvido muito que na sua prova de kanji na quarta-feira caia turco, azeri e tártaro, que eu saiba, os kanji são caracteres da língua japonesa então fecha essas abas de pesquisa sobre línguas turcomanas.
E a senhorita sabe que as páginas da wikipedia não são fontes confiáveis, não é?
Vai colocar wikipedia nas suas referências bibliográficas? Não vai!

Eu: Ok, ok, sr. Freud! O senhor está parecendo a minha mãe. Vou deixá-lo em paz agora, está bem?
A gente não precisava disso tudo.
Eu te desinvoco.

Freud: Até mais. A gente se vê no seu próximo surto.

*Puff! Freud desapareceu*

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

E foi assim que eu pude perceber que por mais que a minha maior vontade seja a de colocar pingos com formato de coração em cima dos is que escrevem a introdução da nossa possível história, eu vou ter que me contentar com is sem pingos, e isso não vai me matar, e nem é motivo pra invocar Freud, até porque, pingo com formato de coração em cima do i é coisa de menininha de 10 anos de idade.
E eu infelizmente não tenho mais 10 anos de idade.
Tenho é mil trabalhos e provas e seminários.
Tenho é que desapegar da wikipedia.
Tenho é que parar de escrever textos que coloquem em cheque a minha sanidade mental.

Prometo que vou tentar.
E uma promessa de que irei tentar pode até não ser uma promessa de que irei conseguir, mas já é um querer.
E querer já está ótimo.
Querer já explica teorias do Freud por exemplo...

Enfim...

Vou colocar o título desse texto como "Promessa", porque "Meu diálogo com Freud" só deixaria o meu bom e velho psicanalista imaginário ainda mais prepotente, e não é isso que nós queremos.
Promessa tá bom. Freud pode estar presente no subtítulo.






terça-feira, 9 de junho de 2015

Sobre sorvete


Se eu não tenho medo de estar vulnerável?

Meu amor, pensa numa criança de 4 anos que se perdeu da mãe no supermercado...
É assim que eu me sinto.
E eu fico aqui na esperança de que nesse grande supermercado que é a vida, assim como a mãe, você esteja procurando desesperadamente pela criança (no caso, por mim, nessa comparação maluca).
Mas ao mesmo tempo, eu fico com medo da criança, vulnerável do jeito que está, sair correndo em direção a qualquer pessoa mal-intencionada, porque oras, é uma criança de 5 anos, e ela ainda não entende bem a vida, e pessoas mal-intencionadas estão em todas as esquinas oferecendo sorvetes, prometendo que vão ajudar a encontrar a mamãe.

Aí eu me pergunto:
Será que você é um estranho?
Se for, será que você é um estranho mal-intencionado?
Ah, existe a chance de você ser um estranho bonzinho, que vai me ajudar a encontrar a minha mãe, não?

Pronto, você não é mais a minha mãe nessa metáfora confusa.
Agora você é o estranho.

Mas aí eu me lembro que eu não tenho 4 anos.
Que eu já sou bem grandinha e capaz de recusar sorvete de estranhos.

Mas e se estranha for a vida? 
Afinal, o que eu sei dela? Parece que a cada dia sei menos.
Pronto, você não é mais o estranho.
A vida é uma estranha.

Será que a vida está me oferecendo um sorvete e eu estou hesitante em aceitá-lo, só porque eu não sei a procedência desse sorvete? 
Será que esse sorvete não vai me fazer mal? 

Pronto, você virou o sorvete agora.
E eu gosto de sorvete. 
Sorvete me faz feliz.

Minha mãe só diz que não é bom tomar sorvete quando a garganta estiver doendo, mas ela sabe como eu gosto de sorvete, e mesmo com a garganta doendo ela me deixa tomar. Só que ela diz pra eu tomar aos pouquinhos, pra não ir esganada pra cima do sorvete porque assim, eu tomo sorvete sem comprometer a minha garganta.

Garganta, nesse caso, é o meu coração.
Você ainda é o sorvete.
E eu nem sei se essa história de que tomar sorvete piora uma garganta que está doendo foi comprovada cientificamente, mas a minha mãe falou, tá falado.

Aliás, eu acho que a criança de 4 anos devia ser que nem eu e ouvir mais a mãe dela.
Principalmente quando ela diz para não falar com estranhos, nem que eles ofereçam sorvete.

Ainda bem que eu não sou uma criança de 4 anos.
Ainda bem que você não é um estranho. 
Ainda bem que agora você é sorvete.

E, quando alguém me perguntar se eu não tenho medo de estar vulnerável, a minha resposta será simples:

-Eu gosto de sorvete!










terça-feira, 26 de maio de 2015

Dessa vez

Dessa vez eu prometo não me arrepender do que eu não fiz.
Não vou deixar de dizer nada que eu sinto, tampouco vou antecipar os meus sentimentos.

Ainda não sinto nada por você, só sinto que posso vir a sentir, e por enquanto isso basta.
E isso não é uma tentativa de me proteger, pelo contrário, eu caminho sem armadura em direção à você, portanto vulnerável e leve, sem defesas e sem o peso de qualquer previsão neurótica de um ataque improvável vindo de você.

Melhor jogar fora esse mapa que eu mesma desenhei e que por isso mesmo, mais do que ninguém, eu conheço o trajeto de cor  e sei que é só andar em círculos: o objetivo é chegar no ponto de partida.

Não é somente inútil como é um desperdício correr, se eu não tenho pressa.

 Não tem aqui nenhuma mensagem subliminar.

Se você, por "acaso", me vê daí, já deveria ser capaz de entender que: sim, eu estou te procurando, mas não, eu não me importo se não te encontrar.

Dessa vez, o importante é o ato de andar.

Um pé depois do outro, que uma hora eu chego lá, ou será que seria: "volto pra cá"?




domingo, 24 de maio de 2015

Pique esconde com a paz



Conheço muitas pessoas fortes, independentes, confiantes, que diariamente, não só através de palavras, mas principalmente através de exemplos, me ensinam a correr atrás do que eu quero.

"Quer amor? Quer sucesso? Quer felicidade? Quer de verdade? Ou quer que isso tudo caia do céu? Não vai cair! Tem que correr atrás."

E isso que eu tenho aprendido com elas é precioso.
Ser dona de mim, saber me virar, procurar caminhos para me encontrar... tudo isso faz com que eu me sinta viva de uma forma tão plena que é até difícil de explicar.

De dois anos para cá, eu posso dizer que não parei em nenhum momento, nem para descansar.
Me pergunto de onde veio fôlego, se eu mal tive tempo para respirar.
Tudo tão intenso... tantos desafios.

Continuei perseguindo tudo que eu acredito ininterruptamente.

Até que um dia a exaustão me pegou desprevenida e eu não aguentei.
O que mais eu podia fazer? Desmaiei.
E quando eu recuperei os meus sentidos, me vi perdida.
Até pensei em procurar o caminho de volta para casa, mas não havia uma única pista.
E eu ainda não tinha me recuperado.
Só me restava descansar enquanto esperava a energia voltar.
Fiquei parada, ali mesmo.
Não saí do lugar.

Nas primeiras horas fiquei inquieta, vendo gente indo e vindo, e eu inerte.
Acho que a mente e o corpo, desacostumados do sossego, se coçavam, mas só tinham força suficiente para isso, então aos poucos consegui me convencer de que não era errado tirar um tempinho para não fazer nada.

As horas seguintes foram passando devagarzinho e em silêncio.
O corpo não se mexia, a mente não pensava em nada.
Ignorava o mundo lá fora, mas ao contrário do que eu pensei que aconteceria, o mundo não me ignorou.
O vento me soprou, o sol me aqueceu, a chuva me molhou...
E eu não tive que me esforçar, as coisas aconteciam, e eu apenas recebia...

Até que me deu fome, e quando ela apareceu eu tive que me mover, fui procurar alimento.

E essa é a história de como eu vi que é possível morar no caos sem deixar o caos morar em mim.

As minhas próprias conquistas, as minhas paixões, as minhas motivações, os meus sonhos não podem me escravizar.
Eu não posso ter medo de ser crua.

A gente corre atrás de tanta coisa que acaba correndo da paz.
E a paz, de todas as coisas que a gente procura na vida, é a única que procura a gente de volta.

Ou seja, a gente brinca de pique esconde com a paz, e é divertido, contanto que eu não vença sempre, contanto que quando for vencida, saiba perder.








sábado, 23 de maio de 2015

Arte


"One only understands the things that one tames," said the fox. " Men have no more time to understand anything. They buy things all ready made at the shops. But there is no shop anywhere where one can buy friendship, and so men have no friends any more. If you want a friend, tame me. . ."

"What must I do, to tame you? asked the little prince.

"You must be very patient," replied the fox. First you will sit down
at a little distance from me -like that-in the grass. I shall look at you out of the corner of my eye, and you will say nothing. Words are the source of misunderstandings. But you will sit a little closer to me, every day..."

The next day the little prince came back.

"It would have been better to come back at the same hour," said the fox.
"If for example, you came at four o'clock in the afternoon, then at three o'clock I shall begin to be happy. I shall feel happier and happier
as the hour advances. At four o'clock, I shall be worrying and jumping about.
I shall show you how happy I am! But if you come at just any time, I shall never know at what hour my heart is ready to greet you. . . One must observe the proper rites. . ."

"What is a rite?" asked the little prince.

"Those also are actions too often neglected," said the fox. "They are what make one day different from other days, one hour different from other hours.

[...]

So the little prince tamed the fox. And when the hour of his departure drew near---

"Ah," said the fox, "I shall cry."

"It is your own fault," said the little prince. "I never wished you any sort of harm; but you wanted me to tame you. . ."

"Yes that is so", said the fox.

"But now you are going to cry!" said the little prince.

"Yes that is so" said the fox.

"Then it has done you no good at all!"

"It has done me good," said the fox, "because of the color of the wheat fields." And then he added: "go and look again at the roses. You will understand now that yours is unique in all the world. Then come back to say goodbye to me, and I will make you a present of a secret."

The little prince went away, to look again at the roses. "You are not at all like my rose," he said. "As yet you are nothing. No one has tamed you, and you have tamed no one. You are like my fox when I first knew him.
He was only a fox like a hundred thousand other foxes. But I have made a friend, and now he is unique in all the world." And the roses were very much embarrassed. "You are beautiful, but you are empty," he went on.
"One could not die for you. To be sure, an ordinary passerby would think that my rose looked just like you --the rose that belongs to me. But in herself alone she is more important than all the hundreds of you nother roses: because it is she that I have watered; because it is she that I have put under the glass globe; because it is for her that I have killed the caterpillars (except the two or three we saved to become butterflies); because it is she that I have listened to, when she grumbled or boasted, or even sometimes when she said nothing. Because she is MY rose."


And he went back to meet the fox. "Goodbye" he said.

"Goodbye," said the fox. "And now here is my secret, a very simple secret:

It is only with the heart that one can see rightly; what is essential is invisible to the eye."


The Little Prince by Saint-Exupéry




Será que é por causa dos seus olhos brilhando enquanto você fala entusiasmado sobre uma das tantas coisas pelas quais você é apaixonado?
Ou é o seu sorriso imperfeito, que eu não me canso de estudar?
Pode ser a sua voz carinhosa ao lembrar do seu avô.
Ou o arrepio que a sua mão gelada causou quando me tocou.

Eu, sinestésica do jeito que sou, vejo as suas cores e elas são mais do que eu consigo sentir... nem com auxílio de todos os meus sentidos eu consigo te decifrar.

E eu espero que continue assim.

Não é importante entender a arte.

É arte sentir.





A Força - XI


terça-feira, 12 de maio de 2015

Eu sei


Eu sei que o que eu sei sobre você é muito pouco, mas isso não muda o fato de que são 02:30 da madrugada e eu preciso escrever sobre você porque são tantos pensamentos que eu não consigo dormir.

Eu sei que você já tá dormindo, porque você dorme cedo pra acordar cedo. Eu que durmo e acordo mais tarde que você, e sempre te falo "boa noite" por último, enquanto você me dá "bom dia" primeiro.

Eu sei que você tá ocupado, que a sua vida tá corrida. A minha também tá.
Mas tô com uma vontade doida de puxar papo, perguntar sobre a o seu dia, sobre a chuva, sobre os seus planos pro fim de semana.

Eu sei que eu tenho que ser paciente, que logo logo você vai ter tempo pra mim, porque foi o que você disse, e eu acredito, mas essa inquietude não me larga.

Eu sei que você é diferente dos outros.
Mesmo assim, tenho medo de que eu ainda seja a mesma dos outros, cometendo os mesmos erros, te arrastando pra esse circulo vicioso que tem sido a minha vida.

Eu sei que é cedo pra listar os meus saberes sobre você, mas só isso me impediria, pelo menos por enquanto, de listar o que eu ainda não sei.

Eu sei que ainda não te conheço muito bem, mas tô amando conhecer.

Só pra não perder o costume: boa noite!
Só pra tentar quebrar a rotina, talvez amanhã eu te dê o primeiro "bom dia".


sábado, 25 de abril de 2015

Sobre ontem, hoje e amanhã



02:45 AM

Há duas semanas chegou aos meus ouvidos que você ama outra pessoa.
No primeiro dia eu tentei me esquivar de qualquer pensamento que me levasse até você, e durante as primeiras 24h obtive sucesso, consegui dormir.
No dia seguinte, quando acordei, você foi, como tem sido desde que eu te conheci, o dono do meu primeiro pensamento do dia.
Nesse dia eu desisti da anestesia, e resolvi sentir a falta que você me fazia, me permiti sentir inveja dela, consegui admitir a raiva que sentia de mim mesma por não conseguir fazer você ficar.
Depois disso, os dias se arrastaram até hoje.
Uns mais cheios do que os outros, mas a sensação de que eles se forçaram a chegar até aqui foi distribuída de forma justa.
Anteontem, me vi deitada, doente.
Deve ter sido alguma coisa que eu comi, alguma coisa que eu bebi, naquele meu velho ritual de querer curar dores com prazeres que eu sequer consigo sentir.
Ontem, eu nem sei como foi. Me desliguei totalmente de tudo. É como se ontem tivesse sido mera passagem para hoje.

Hoje eu tô aqui, tentando gastar os meus sentimentos.
Tentando me cansar de pensar em você.
Repetindo pra mim mesma que eu mereço te esquecer.
Que você não me quer, nunca me quis e nunca vai me querer.
E não foi por falta ou falha minha.
"Essas coisas a gente não pode quantificar nem qualificar" - eu reflito.

Eu espero que um dia você seja o meu ontem: mera passagem para o "hoje".

Você é gente boa, e ela também deve ser, afinal, ela foi escolhida por você.

E eu espero que um dia eu consiga desejar sorte para vocês.

Mas hoje ainda não é amanhã. Hoje ainda é mais ontem do que hoje.

03:18 AM

sábado, 11 de abril de 2015

Guarda-chuva


Agora quase não chove, mas eu não esqueço de levar comigo o guarda-chuva todas as vezes que saio de casa.

Não sei porque sempre me escondo de precipitações.
Talvez seja porque nas poucas vezes em que tomei banho de chuva, peguei longos resfriados difíceis de curar.

Mas preciso confessar:
Mais do que um casal dividindo um guarda-chuva, invejo o cliché cinematográfico do homem correndo ao encontro da mulher amada, debaixo de uma chuva torrencial, e quando eles se encontram eles dançam, e se beijam, e se amam, e são as pessoas mais felizes do mundo.
O que me encanta não é a cena em si, mas o depois.

Aposto que assim como eu, eles ficarão resfriados depois da chuva.
Mas eles não se importarão, porque enquanto estiverem doentinhos de amor, eles cuidarão um do outro.
Os dois espirrarão de 15 em 15 segundos, e para eles, não haverá canção mais bela que os incessantes "atchins",
Até a canja mais insossa se tornará o mais delicioso dos alimentos.
Nada soará mais sexy do que as vozes nasaladas um do outro.

Flerte deve ser quando você divide o guarda-chuva com alguém.
Paixão deve ser o que eles sentem durante a chuva.
Amor deve ser o que eles sentem depois que ela passa.

Quase metade de abril, as águas de março já fecharam o verão, e eu ainda não criei coragem pra insistir nem desistir de você.

Acho que eu tô esperando chover.






Semáforo


Nunca passava por ali. Era uma das partes mais feias da cidade.
Mas um amigo havia se mudado pra um bairro próximo dali e eu estava ajudando na mudança.
A única vez que fui lá foi quando marquei um encontro com uma garota cujo nome eu mal lembro como se pronuncia, apesar de ainda lembrar de como se escreve.
Eu até poderia ter tentado levar aquela história adiante, mas estou certo de que não haveria futuro.
Ela até que era legal, mas não sei se era quem eu tanto procurava.

Eu me lembrava do número da casa dela, era uma sequência de algarismos fácil de decorar, resolvi desacelerar e passar devagar pra ver se ainda reconhecia o local.
Ela mora bem em frente ao semáforo, que por sinal estava fechado.
Encarei o portão da casa dela por alguns segundos e logo voltei a minha atenção ao semáforo.

Foi nessa hora que ela surgiu, bem na minha frente, atravessando a rua com os longos cabelos ao vento, andando levemente apressada, mais bonita do que eu me lembrava.
Eu, que nunca pensava nela, senti uma súbita vontade de que ela me enxergasse atrás do vidro do carro.
Se não conseguisse, que pelo menos olhasse pro carro e se lembrasse de que já saiu com um cara que dirigia um igual àquele.
Abri a janela do lado do passageiro, lugar que ela ocupou uma vez, na esperança de que ela olhasse para trás, pelo menos uma vez antes de entrar em casa.
Ela se virou apenas para se certificar de que havia trancado o portão.
Acho que vi os olhos dela em minha direção.
Mas ela dedicou tão poucos centésimos que não tenho certeza se ela me viu, ou se viu o meu carro.
Ouvi a buzina do carro de trás. O sinal abriu.

Não tive escolha, a não ser seguir em frente.




sábado, 4 de abril de 2015

Te desencontrando


Essa é a última vez que eu desejo que o último beijo tivesse sido mais longo.
Não vou mais me arrepender de não ter te abraçado mais forte.
Vou parar de imaginar como seria se essa cidade fosse menor, pra gente se esbarrar por aí de vez em quando.

Até porque, o meu beijo dizia até logo.
O meu abraço frouxo mal servia pra te abraçar, quem dirá te prender.
E o Rio de Janeiro não vai deixar de ser uma cidade grande só porque alguém como eu, que só pensa em você, quer.

Eu devia ter te pedido pra ficar enquanto você ainda estava aqui.

Ouvir a nossa música não vai te trazer de volta.
Comecei a perceber isso depois que a viagem de quase 4 horas pra minha pequena cidade escutando a mesma canção idiota chegou ao fim e a sua ausência não só permaneceu como se fez ainda mais presente.

Mas não vou me esforçar pra te esquecer.
Essa é mais uma coisa que eu tentei fazer e falhei miseravelmente.

Tenho é que aprender a conviver com a falta insana que você faz, sem me torturar com pensamentos no pretérito imperfeito do subjuntivo.
E sem tentar te apagar da minha vida como se eu realmente quisesse.

A verdade é que eu preciso seguir em frente da mesma forma que você.
Só preciso parar de desejar que você esteja na contramão, vindo em minha direção.
E me acostumar com a ideia de que não haverá mais uma colisão.

Encontros são comuns.
Reencontros sãos raros.
E eu pareço te desencontrar em cada bairro dessa cidade,

segunda-feira, 16 de março de 2015

Ra(paz)


Eu queria falar sobre você, te agradecer direito, mas eu não sei quase nada sobre você...
Como eu começo?

Falo que a gente se conheceu do nada e a única coisa que sabemos um do outro é que não temos nada a perder?
Menciono o seu sorriso simpático, o seu corpo bonito e o seu aparente desapego?
Digo que não me esforço nem um pouco pra te entreter, que você se esforça menos ainda pra me convencer de que eu deva te querer, e que isso parece funcionar estranhamente bem?

Você não significa nem metade do que aquele magrelo desajeitado significava pra mim, mas no final das contas, é você quem está aqui agora, não é?

Eu acho que o que me atrai é a pessoa despretensiosa que você ajudou a descobrir que eu posso ser..

Nunca te procuro, nem você me procura, mas de vez em quando acontece da gente se esbarrar, e a gente até que se dá bem.

Ele bagunçou a minha vida, e demorou pra eu conseguir pôr cada coisa em seu devido lugar.
Depois que eu me reconstruí, tive medo de convidar qualquer um pro meu lar.
Mas você é uma visita nada inconveniente. É sempre bom te receber.

A melhor parte é que quando chega a noite e você vai embora, eu consigo colocar a cabeça no travesseiro e dormir.

Você me fez entender que, ás vezes, não é amor que faz falta, é paz.

Você devolveu o meu sono.

Obrigada.

domingo, 15 de março de 2015

Sermão de flores



Esses dias eu tava aconselhando uma amiga e ela disse o que, provavelmente, foi o elogio mais bonito que alguém podia ter feito. Ela disse:
"Amiga, obrigada pelo sermão de flores.
Normalmente, quando alguém vai dar sermão, parece que a pessoa tá querendo te tacar pedras, o seu sermão não. Parecia que você estava me oferecendo flores."

 Essa expressão sermão de flores ficou na minha cabeça.
Aí eu comecei a relembrar de todos os conselhos que já me deram.

Lembrei de quando todo mundo tentou me ensinar a andar de bicicleta sem rodinhas, dizendo: "faz assim ou você vai cair", "se você frear do nada você vai meter a testa no chão", etc etc
Foram conselhos bons, mas mesmo com eles, eu não aprendi a andar de bicicleta sem rodinhas.
Só o meu avô, com o pouco português que sabia, conseguiu me fazer perder o medo de andar de bicicleta sem rodinhas.
Ele disse algo que se assemelha com isso:
"Bicicleta tombou, equilibra com o guidão" e depois, sem maiores explicações, ele me deu um empurrãozinho e disse: "vai!", e eu fui.

Lembrei de todas as vezes que os meus pais aconselharam à mim e ao meu irmão sempre demonstrando preocupação e nunca autoritarismo, de forma que a gente nem percebia que eles estavam aconselhando a gente.
Nunca ouvi da minha mãe, por exemplo, "você não vai", quando dizia à ela que queria sair pra qualquer lugar que fosse.
Ela me perguntava: "Julie, será que é seguro?" "vai ter um responsável?" "quem vai dirigindo?" "leva o celular" "me avise quando chegar lá".
De forma que eu, sempre, antes de fazer qualquer coisa, pergunto à ela, mesmo já sendo maior de idade, mesmo sabendo que ela vai deixar, e, várias vezes, deixei de ir à um lugar sem que ela precisasse me proibir, só por ela me perguntar se eu não achava perigoso, me fazendo ver que, de fato, havia muito risco de dar ruim.

E eu acho que é a falta disso que complica a gente, sabe?

A gente se acostumou a dizer que se não levar casaco o outro vai gripar, em vez de dizer que se levar casaco, o outro vai se manter quentinho.
As pessoas falam que votam em A porque quem vota em B é burro.
Em vez de falarem o porquê de votarem em A, as pessoas preferem falar o porquê de não votarem em B.
Te dizem que você não vai chegar onde quer porque está sendo idiota, em vez de dizerem que sabem que você consegue chegar onde quiser porque é dono de muitas qualidades e que confiam em você porque você é capaz e merecedor.

Conselhos e sermões não foram feitos para mostrar para o outro que ele está errado, mas para mostrar o quanto ele pode dar certo.
Não foram feitos para que o outro aja exatamente como você agiria em determinada situação, por isso não recebemos nem damos conselhos para desconhecidos: o melhor conselho é quando a gente mostra pra pessoa o melhor que ela tem e que muitas vezes ela mesma não vê, assim, ela não faz nada que já não faria, mas faz aquilo que sempre esteve dentro dela, e que por descuido ou hipermetropia nunca enxergou. Conselhos e sermões são sinônimos de cuidado e resultado de muita observação.

Na maioria das vezes, conselhos e sermões são meros empurrõezinhos que dão aquela sensação de "eu acredito e confio que você fará o melhor para você".



sexta-feira, 13 de março de 2015

Eu não me apaixonei por você.


É meio difícil dizer isso, deve ser difícil pra você ouvir também, mas lá vai:

Eu não me apaixonei por você!

O que?

Você não tá acreditando?

E olha que você tava de fora.

Você nem tava sentindo coisas, como o coração pular, ou a garganta fechar.
Nem sentia mil borboletas no estômago, nem sentia nada, ou o tudo, que eu sentia.

Pensa em gravidez psicológica: o amor que eu tive por você foi por aí.
Tive todos os sintomas de amor, e eu acreditei demais nesse amor, amei esse amor, mas no final das contas não tinha amor ali, como eu ia dar à luz um amor inexistente?

Eu tava sob efeito da sua voz rouca.
Possivelmente me deixei influenciar pelo seu sorriso.
Mas com certeza, quando eu olhava nos seus olhos, eu não me via, nem te via, e isso, de certa forma, me intrigava.

Cheguei a pensar que fosse problema nos meus olhos, por isso decidi usar óculos.
Não óculos normais, mas aqueles que quando a gente vai pro sol a lente escurece.
Eu pensei que seriam úteis, já que você pra mim era sol.
Tão brilhante que era difícil manter os olhos abertos perto de você.
E isso me denunciou.

Quando eu me aproximei de você, cuja presença sempre se assemelhou à do sol, percebi que as lentes não escureceram.
Pela primeira vez eu percebi que sempre que fui ao seu encontro, estava de olhos fechados, por isso eu não via nada.
Depois dos óculos, eu não tinha medo de que o seu brilho cegasse os meus olhos, e isso me fez ir confiante em sua direção, com os olhos bem abertos, e foi aí que eu vi que o seu brilho não era real. Aquele brilho, que ao mesmo tempo que me fascinava, me afastava de você, não existia. Nem o calor existia.

Não que o brilho seja pré-requisito para o amor. Pelo contrário. A lua e as estrelas, por exemplo, não brilham durante o dia, e nem por isso eu deixo de aguardar ansiosamente a noite para vê-las.

O problema é que o seu falso brilho me afastou do seu real ser e do seu real brilho.
Eu te inventei.
E quem você realmente era não correspondeu às minhas malditas expectativas.

Talvez, se eu tivesse te conhecido de verdade, eu poderia ter sentido coisas de verdade.
Mas foi tudo mentira.

Eu não me apaixonei por você.




domingo, 8 de março de 2015

Muitíssimo obrigada


É meu dia. É dia da minha mãe, da minha avó, da minha afilhada, da minha vizinha, das minhas professoras, de todas nós.
Mas também é dia de vocês, que não são mulheres.
Dia para refletirem.
Não somente nos parabenizem. Reflitam.

"Parabéns pelo seu dia, mulher, obrigado por deixar a minha vida mais bonita."
Tá errado. Muito errado. Todo errado.
Eu não tô aqui pra deixar a vida de ninguém, se não a minha, mais bonita.
Essa sociedade acha que se nós mulheres não deixarmos a vida dos homens mais bonita, nós não estamos cumprindo o nosso papel direito, como se estivéssemos aqui com função de adorno e só.

"Parabéns, você mulher que é mãe, cuida da casa, trabalha, e ainda assim está sempre linda e arrumada."
Não, mil vezes não!
Mulher é mãe, cuida da casa, trabalha e está sempre linda, SE QUISER.
E não corresponder à uma dessas "exigências" não faz dela uma puta, uma vadia, ou uma desleixada.

Se você parabenizou uma mulher de uma das formas acima, troque o parabéns por um pedido de desculpas.

Hoje é dia da luta, luta daquelas mulheres que, ainda no século XX, foram às ruas e se manifestaram por melhores condições de vida e trabalho.

Hoje é dia de luto por aquelas operárias que morreram no incêndio de uma fábrica em que trabalhavam por condições e salários desrespeitosos

E vocês que não entendem o porquê da gente não aceitar o "parabéns", vocês que acham que a gente tá levando muito a sério essa "brincadeira" de ser feminista, vocês que chamam qualquer mulher que não sorria pros seus "elogios" de mal-amada, de feminazi, de puta, de vadia, vocês precisam entender que o dia internacional da mulher não é dia pra você, homenzinho, brilhar e conquistar garotinhas com um discursinho machistinha disfarçadinho de parabéns.

Hoje é dia de luta.


segunda-feira, 2 de março de 2015

Dreams



Do you know when you put in your head you want something, even if it seems unreachable, and you just can't let it go?
The path is tremendously long, you know it, but you keep going towards that direction.
You're kind of lost, so you decide to look behind and you see that every single thing you did until now you did with that goal in mind, but the initial reasons for you to want that, don't seem to make sense anymore.
You forget why you're doing what you're doing. You feel like Gump when asked why he's running. Just like him, you keep running. Maybe it became the only thing you can do.

And suddenly, you're not only uninspired. You're also tired. So tired you keep staring at your feet.
You feel for the first time that it's not that you don't want it anymore, you just can't keep wanting it.

So you decide to say farewell to the road, but you know the word "goodbye" only means something if it's said eye to eye, so you face, for what you think it's the last time, what's in front of you.

Surprise! Your dream is so close you can almost touch it, and even though you're not the same person from the beginning of the journey, the dream is still here intact, unbroken, unimpaired, about to come true.
You find out that you may have changed, but not your dream..

You talk to the kid that used to dream that dream, and listening to her, so proud of where you are, makes you realize:

You didn't just put that in your head, you put that in your heart, and that's what's guided you, even when giving up was tempting.
Now that you're here, it almost feels like the dream is not that big, until you realize it's not the dream that got smaller, you're the one who grew up.

So don't give up. Make that dream come true.
Dreams are not the end of the line.
Dreams are fuel.
When the dream come true, refuel.






sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Paciência















Não é falta de coragem. 
Não é joguinho.
Não é insegurança.
Não é cu doce.
Não é incerteza.
Não é indiferença.
Não é difícil.
Não é complicado.
Não é nada disso.

Confia em mim.
Parece loucura, mas confia em mim.

Quero ganhar a sua confiança aos pouquinhos.
Porque eu já tive medo que nem você.
Qualquer movimento brusco e você foge, né?

Sei que estou sendo testada.
Alguns chamariam isso de estratégia, mas é puro cuidado.
Te entendo um pouco mais agora. Você quer ter certeza.

Não quero perder você de vista, mas também não quero perder o controle. 
Não agora que a distância entre nós é tão pequena.
Toda essa cautela vai valer a pena, eu sei.

Não posso ter pressa, mas não posso perder o ritmo.
Então a gente faz assim:
Não saia daí. Eu vou até você.

Um passo atrás do outro que é pra você ver que eu não quero te fazer mal.
Minhas mãos ao alto. Peço trégua. Peço paz.
Peço que você baixe a sua guarda também.
Me entrego 
pra você ver que, 
na verdade, 
eu 
sempre 
fui 
refém.





sábado, 21 de fevereiro de 2015

Hipoteticamente falando.

Durante muito tempo eu fiquei me perguntando se a culpa da gente não ter dado certo não foi minha.
Por causa disso, apesar do medo de parecer idiota ser monstruoso, mesmo que tropeçando e gaguejando, fui atrás de você. Não sei se você percebeu, mas eu fui.


Sempre pensando: “e se ele achar que eu não gosto dele o suficiente para merece-lo?”, “vai que ele encontra uma menina que goste dele e saiba expressar o que sente melhor do que eu?”, “e se ele é o amor da minha vida e eu tô deixando ele escapar por pura incompetência?”


Essas hipóteses me guiaram até aqui. E eu resolvi calçar você com os meus sapatos pra ver se a gente chega no mesmo lugar:


E se você não viu que eu gosto esse tantão de você, simplesmente, porque preferiu não ver?


Se você encontrasse outra garota e realmente quisesse estar com ela, o fato dela não deixar óbvio que quer estar contigo também, te impediria de mostrar o que você quer?


E se, assim como eu, você tivesse medo de me ver amando outro alguém?
Você já não teria vindo atrás de mim, mesmo que tropeçando e gaguejando, da mesma forma que eu, idiotamente, fui atrás de você? E se você veio e eu não percebi?


E se, no final das contas, eu sou o amor da sua vida e você tá me deixando escapar por pura incompetência?


Se a resposta pra essas perguntas for sim, eu posso até ter culpa, mas você também tem, porque foi tão covarde quanto eu.


Se for não, eu não posso me sentir culpada porque na vida as vezes acontece da gente gostar de alguém e esse alguém não corresponder. Eu não sou culpada de amar sem ser amada. Você não tem culpa de eu te amar e você não me amar.


Então, é assim:
Ou nós dois somos culpados, ou nós dois estamos absolvidos da culpa.


Dividir a culpa ou a não-culpa de nós dois é uma incógnita.
Se esse pensamento inteiro surgiu porque pra mim, amor é complicado que nem matemática, nessa equação eu sou igual à você e tanto você quanto eu somos zeros.
E zero mais zero sempre será zero.


E se esse amor fosse bom pra mim, eu não estaria fazendo metáforas com tribunais e matemáticas.


Zero mais zero sempre será zero.

Julgamento encerrado.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

"Curtidas"

Oi, o meu nome é Julie e eu sou viciada em redes sociais.
Olho o meu smartphone umas 1938294039 vezes por dia e me odeio por isso.


Facebook, instagram, twitter, snapchat, whatsapp e outros tantos. Faço uso deles.
Ou eles fazem uso de mim, sei lá.


Eu sei que não estou só, e isso não me consola nem um pouco.
Pelo contrário, me aterroriza.


Não vou chegar com aquele papo anti-tecnologia que não acrescenta em nada, até porque, a tecnologia não vai regredir, e nem deve, a tecnologia é o máximo!
Mas é aquela frase do tio Ben, o tio do homem-aranha, que me faz refletir:
“Com grandes poderes vem grandes responsabilidades”.


Hoje em dia, você posta na internet o que quiser.
Se quiser postar 80 selfies idênticas no seu perfil do facebook, você pode.
Se quiser falar mal do seu vizinho, pode.
Se quiser mostrar pra todo mundo que tá feliz, é lógico que você pode.


Quem nunca? Eu já.
E foi quando eu percebi o meu comportamento compulsivo que eu percebi que tinha algo errado.


Pra que tanta foto da minha cara?
Pra que deixar todo mundo ver que eu xingo o meu vizinho?
Pra que mostrar que eu tô feliz?
E o pior, pra que mostrar que eu tô feliz mesmo quando eu não tô?


A nova droga é a tal da “curtida”. Ela vicia.
Você se vê fazendo coisas idiotas pra manter o vício.
Você “curte” coisas que não curte, só pra te “curtirem” de volta, e no fundo você sabe que ninguém tá curtindo nada. Todos estão “curtindo”. Tentem entender as aspas.


As pessoas não postam fotos sorrindo porque estão felizes, mas porque querem mostrar que estão felizes.
Estamos alimentando a vida virtual com a vida real.
É isso, a nossa vida real tornou-se alimento da vida virtual.
E por mais delicioso que seja o alimento, uma hora ele vira fezes. Eca!


Não é hipocrisia, é auto-crítica. Eu faço parte dessa geração. E eu tenho medo.
Tenho medo de só sorrir se souber que alguém vai ver.


A internet tem esse grande poder de fazer parecer que estão perto aqueles que estão longe.
Eu moro longe dos meus pais, e graças à internet, a distância não parece tão grande.
Nas férias, quando eu venho para a casa dos meus pais, eu acompanho o que tá acontecendo na vida dos meus amigos pela internet.
Eu falo com pessoas que têm uma vida corrida e só não sumiram da minha vida por causa da internet.


Não posso fazer a internet de vilã.
Não mesmo.


A gente que tá sendo Peter Parker nesse filme chamado Vida.
Estamos deixando o poder chamado internet nos dominar.
Por favor, não vamos chorar quando o tio Ben, grande inspiração para esse texto, for morto pelo bandido que a gente deixou escapar enquanto checava, pela milésima vez, se não tinha notificações novas no facebook.
Pega esse smartphone e faz ele de celular uma vez nessa vida, liga pra polícia, pede pra prenderem o bandido, pede pra eles salvarem o tio Ben, pelamorrrr!!!

Usemos os nossos smartphones com sabedoria!