sábado, 25 de abril de 2015

Sobre ontem, hoje e amanhã



02:45 AM

Há duas semanas chegou aos meus ouvidos que você ama outra pessoa.
No primeiro dia eu tentei me esquivar de qualquer pensamento que me levasse até você, e durante as primeiras 24h obtive sucesso, consegui dormir.
No dia seguinte, quando acordei, você foi, como tem sido desde que eu te conheci, o dono do meu primeiro pensamento do dia.
Nesse dia eu desisti da anestesia, e resolvi sentir a falta que você me fazia, me permiti sentir inveja dela, consegui admitir a raiva que sentia de mim mesma por não conseguir fazer você ficar.
Depois disso, os dias se arrastaram até hoje.
Uns mais cheios do que os outros, mas a sensação de que eles se forçaram a chegar até aqui foi distribuída de forma justa.
Anteontem, me vi deitada, doente.
Deve ter sido alguma coisa que eu comi, alguma coisa que eu bebi, naquele meu velho ritual de querer curar dores com prazeres que eu sequer consigo sentir.
Ontem, eu nem sei como foi. Me desliguei totalmente de tudo. É como se ontem tivesse sido mera passagem para hoje.

Hoje eu tô aqui, tentando gastar os meus sentimentos.
Tentando me cansar de pensar em você.
Repetindo pra mim mesma que eu mereço te esquecer.
Que você não me quer, nunca me quis e nunca vai me querer.
E não foi por falta ou falha minha.
"Essas coisas a gente não pode quantificar nem qualificar" - eu reflito.

Eu espero que um dia você seja o meu ontem: mera passagem para o "hoje".

Você é gente boa, e ela também deve ser, afinal, ela foi escolhida por você.

E eu espero que um dia eu consiga desejar sorte para vocês.

Mas hoje ainda não é amanhã. Hoje ainda é mais ontem do que hoje.

03:18 AM

sábado, 11 de abril de 2015

Guarda-chuva


Agora quase não chove, mas eu não esqueço de levar comigo o guarda-chuva todas as vezes que saio de casa.

Não sei porque sempre me escondo de precipitações.
Talvez seja porque nas poucas vezes em que tomei banho de chuva, peguei longos resfriados difíceis de curar.

Mas preciso confessar:
Mais do que um casal dividindo um guarda-chuva, invejo o cliché cinematográfico do homem correndo ao encontro da mulher amada, debaixo de uma chuva torrencial, e quando eles se encontram eles dançam, e se beijam, e se amam, e são as pessoas mais felizes do mundo.
O que me encanta não é a cena em si, mas o depois.

Aposto que assim como eu, eles ficarão resfriados depois da chuva.
Mas eles não se importarão, porque enquanto estiverem doentinhos de amor, eles cuidarão um do outro.
Os dois espirrarão de 15 em 15 segundos, e para eles, não haverá canção mais bela que os incessantes "atchins",
Até a canja mais insossa se tornará o mais delicioso dos alimentos.
Nada soará mais sexy do que as vozes nasaladas um do outro.

Flerte deve ser quando você divide o guarda-chuva com alguém.
Paixão deve ser o que eles sentem durante a chuva.
Amor deve ser o que eles sentem depois que ela passa.

Quase metade de abril, as águas de março já fecharam o verão, e eu ainda não criei coragem pra insistir nem desistir de você.

Acho que eu tô esperando chover.






Semáforo


Nunca passava por ali. Era uma das partes mais feias da cidade.
Mas um amigo havia se mudado pra um bairro próximo dali e eu estava ajudando na mudança.
A única vez que fui lá foi quando marquei um encontro com uma garota cujo nome eu mal lembro como se pronuncia, apesar de ainda lembrar de como se escreve.
Eu até poderia ter tentado levar aquela história adiante, mas estou certo de que não haveria futuro.
Ela até que era legal, mas não sei se era quem eu tanto procurava.

Eu me lembrava do número da casa dela, era uma sequência de algarismos fácil de decorar, resolvi desacelerar e passar devagar pra ver se ainda reconhecia o local.
Ela mora bem em frente ao semáforo, que por sinal estava fechado.
Encarei o portão da casa dela por alguns segundos e logo voltei a minha atenção ao semáforo.

Foi nessa hora que ela surgiu, bem na minha frente, atravessando a rua com os longos cabelos ao vento, andando levemente apressada, mais bonita do que eu me lembrava.
Eu, que nunca pensava nela, senti uma súbita vontade de que ela me enxergasse atrás do vidro do carro.
Se não conseguisse, que pelo menos olhasse pro carro e se lembrasse de que já saiu com um cara que dirigia um igual àquele.
Abri a janela do lado do passageiro, lugar que ela ocupou uma vez, na esperança de que ela olhasse para trás, pelo menos uma vez antes de entrar em casa.
Ela se virou apenas para se certificar de que havia trancado o portão.
Acho que vi os olhos dela em minha direção.
Mas ela dedicou tão poucos centésimos que não tenho certeza se ela me viu, ou se viu o meu carro.
Ouvi a buzina do carro de trás. O sinal abriu.

Não tive escolha, a não ser seguir em frente.




sábado, 4 de abril de 2015

Te desencontrando


Essa é a última vez que eu desejo que o último beijo tivesse sido mais longo.
Não vou mais me arrepender de não ter te abraçado mais forte.
Vou parar de imaginar como seria se essa cidade fosse menor, pra gente se esbarrar por aí de vez em quando.

Até porque, o meu beijo dizia até logo.
O meu abraço frouxo mal servia pra te abraçar, quem dirá te prender.
E o Rio de Janeiro não vai deixar de ser uma cidade grande só porque alguém como eu, que só pensa em você, quer.

Eu devia ter te pedido pra ficar enquanto você ainda estava aqui.

Ouvir a nossa música não vai te trazer de volta.
Comecei a perceber isso depois que a viagem de quase 4 horas pra minha pequena cidade escutando a mesma canção idiota chegou ao fim e a sua ausência não só permaneceu como se fez ainda mais presente.

Mas não vou me esforçar pra te esquecer.
Essa é mais uma coisa que eu tentei fazer e falhei miseravelmente.

Tenho é que aprender a conviver com a falta insana que você faz, sem me torturar com pensamentos no pretérito imperfeito do subjuntivo.
E sem tentar te apagar da minha vida como se eu realmente quisesse.

A verdade é que eu preciso seguir em frente da mesma forma que você.
Só preciso parar de desejar que você esteja na contramão, vindo em minha direção.
E me acostumar com a ideia de que não haverá mais uma colisão.

Encontros são comuns.
Reencontros sãos raros.
E eu pareço te desencontrar em cada bairro dessa cidade,