segunda-feira, 16 de março de 2015

Ra(paz)


Eu queria falar sobre você, te agradecer direito, mas eu não sei quase nada sobre você...
Como eu começo?

Falo que a gente se conheceu do nada e a única coisa que sabemos um do outro é que não temos nada a perder?
Menciono o seu sorriso simpático, o seu corpo bonito e o seu aparente desapego?
Digo que não me esforço nem um pouco pra te entreter, que você se esforça menos ainda pra me convencer de que eu deva te querer, e que isso parece funcionar estranhamente bem?

Você não significa nem metade do que aquele magrelo desajeitado significava pra mim, mas no final das contas, é você quem está aqui agora, não é?

Eu acho que o que me atrai é a pessoa despretensiosa que você ajudou a descobrir que eu posso ser..

Nunca te procuro, nem você me procura, mas de vez em quando acontece da gente se esbarrar, e a gente até que se dá bem.

Ele bagunçou a minha vida, e demorou pra eu conseguir pôr cada coisa em seu devido lugar.
Depois que eu me reconstruí, tive medo de convidar qualquer um pro meu lar.
Mas você é uma visita nada inconveniente. É sempre bom te receber.

A melhor parte é que quando chega a noite e você vai embora, eu consigo colocar a cabeça no travesseiro e dormir.

Você me fez entender que, ás vezes, não é amor que faz falta, é paz.

Você devolveu o meu sono.

Obrigada.

domingo, 15 de março de 2015

Sermão de flores



Esses dias eu tava aconselhando uma amiga e ela disse o que, provavelmente, foi o elogio mais bonito que alguém podia ter feito. Ela disse:
"Amiga, obrigada pelo sermão de flores.
Normalmente, quando alguém vai dar sermão, parece que a pessoa tá querendo te tacar pedras, o seu sermão não. Parecia que você estava me oferecendo flores."

 Essa expressão sermão de flores ficou na minha cabeça.
Aí eu comecei a relembrar de todos os conselhos que já me deram.

Lembrei de quando todo mundo tentou me ensinar a andar de bicicleta sem rodinhas, dizendo: "faz assim ou você vai cair", "se você frear do nada você vai meter a testa no chão", etc etc
Foram conselhos bons, mas mesmo com eles, eu não aprendi a andar de bicicleta sem rodinhas.
Só o meu avô, com o pouco português que sabia, conseguiu me fazer perder o medo de andar de bicicleta sem rodinhas.
Ele disse algo que se assemelha com isso:
"Bicicleta tombou, equilibra com o guidão" e depois, sem maiores explicações, ele me deu um empurrãozinho e disse: "vai!", e eu fui.

Lembrei de todas as vezes que os meus pais aconselharam à mim e ao meu irmão sempre demonstrando preocupação e nunca autoritarismo, de forma que a gente nem percebia que eles estavam aconselhando a gente.
Nunca ouvi da minha mãe, por exemplo, "você não vai", quando dizia à ela que queria sair pra qualquer lugar que fosse.
Ela me perguntava: "Julie, será que é seguro?" "vai ter um responsável?" "quem vai dirigindo?" "leva o celular" "me avise quando chegar lá".
De forma que eu, sempre, antes de fazer qualquer coisa, pergunto à ela, mesmo já sendo maior de idade, mesmo sabendo que ela vai deixar, e, várias vezes, deixei de ir à um lugar sem que ela precisasse me proibir, só por ela me perguntar se eu não achava perigoso, me fazendo ver que, de fato, havia muito risco de dar ruim.

E eu acho que é a falta disso que complica a gente, sabe?

A gente se acostumou a dizer que se não levar casaco o outro vai gripar, em vez de dizer que se levar casaco, o outro vai se manter quentinho.
As pessoas falam que votam em A porque quem vota em B é burro.
Em vez de falarem o porquê de votarem em A, as pessoas preferem falar o porquê de não votarem em B.
Te dizem que você não vai chegar onde quer porque está sendo idiota, em vez de dizerem que sabem que você consegue chegar onde quiser porque é dono de muitas qualidades e que confiam em você porque você é capaz e merecedor.

Conselhos e sermões não foram feitos para mostrar para o outro que ele está errado, mas para mostrar o quanto ele pode dar certo.
Não foram feitos para que o outro aja exatamente como você agiria em determinada situação, por isso não recebemos nem damos conselhos para desconhecidos: o melhor conselho é quando a gente mostra pra pessoa o melhor que ela tem e que muitas vezes ela mesma não vê, assim, ela não faz nada que já não faria, mas faz aquilo que sempre esteve dentro dela, e que por descuido ou hipermetropia nunca enxergou. Conselhos e sermões são sinônimos de cuidado e resultado de muita observação.

Na maioria das vezes, conselhos e sermões são meros empurrõezinhos que dão aquela sensação de "eu acredito e confio que você fará o melhor para você".



sexta-feira, 13 de março de 2015

Eu não me apaixonei por você.


É meio difícil dizer isso, deve ser difícil pra você ouvir também, mas lá vai:

Eu não me apaixonei por você!

O que?

Você não tá acreditando?

E olha que você tava de fora.

Você nem tava sentindo coisas, como o coração pular, ou a garganta fechar.
Nem sentia mil borboletas no estômago, nem sentia nada, ou o tudo, que eu sentia.

Pensa em gravidez psicológica: o amor que eu tive por você foi por aí.
Tive todos os sintomas de amor, e eu acreditei demais nesse amor, amei esse amor, mas no final das contas não tinha amor ali, como eu ia dar à luz um amor inexistente?

Eu tava sob efeito da sua voz rouca.
Possivelmente me deixei influenciar pelo seu sorriso.
Mas com certeza, quando eu olhava nos seus olhos, eu não me via, nem te via, e isso, de certa forma, me intrigava.

Cheguei a pensar que fosse problema nos meus olhos, por isso decidi usar óculos.
Não óculos normais, mas aqueles que quando a gente vai pro sol a lente escurece.
Eu pensei que seriam úteis, já que você pra mim era sol.
Tão brilhante que era difícil manter os olhos abertos perto de você.
E isso me denunciou.

Quando eu me aproximei de você, cuja presença sempre se assemelhou à do sol, percebi que as lentes não escureceram.
Pela primeira vez eu percebi que sempre que fui ao seu encontro, estava de olhos fechados, por isso eu não via nada.
Depois dos óculos, eu não tinha medo de que o seu brilho cegasse os meus olhos, e isso me fez ir confiante em sua direção, com os olhos bem abertos, e foi aí que eu vi que o seu brilho não era real. Aquele brilho, que ao mesmo tempo que me fascinava, me afastava de você, não existia. Nem o calor existia.

Não que o brilho seja pré-requisito para o amor. Pelo contrário. A lua e as estrelas, por exemplo, não brilham durante o dia, e nem por isso eu deixo de aguardar ansiosamente a noite para vê-las.

O problema é que o seu falso brilho me afastou do seu real ser e do seu real brilho.
Eu te inventei.
E quem você realmente era não correspondeu às minhas malditas expectativas.

Talvez, se eu tivesse te conhecido de verdade, eu poderia ter sentido coisas de verdade.
Mas foi tudo mentira.

Eu não me apaixonei por você.




domingo, 8 de março de 2015

Muitíssimo obrigada


É meu dia. É dia da minha mãe, da minha avó, da minha afilhada, da minha vizinha, das minhas professoras, de todas nós.
Mas também é dia de vocês, que não são mulheres.
Dia para refletirem.
Não somente nos parabenizem. Reflitam.

"Parabéns pelo seu dia, mulher, obrigado por deixar a minha vida mais bonita."
Tá errado. Muito errado. Todo errado.
Eu não tô aqui pra deixar a vida de ninguém, se não a minha, mais bonita.
Essa sociedade acha que se nós mulheres não deixarmos a vida dos homens mais bonita, nós não estamos cumprindo o nosso papel direito, como se estivéssemos aqui com função de adorno e só.

"Parabéns, você mulher que é mãe, cuida da casa, trabalha, e ainda assim está sempre linda e arrumada."
Não, mil vezes não!
Mulher é mãe, cuida da casa, trabalha e está sempre linda, SE QUISER.
E não corresponder à uma dessas "exigências" não faz dela uma puta, uma vadia, ou uma desleixada.

Se você parabenizou uma mulher de uma das formas acima, troque o parabéns por um pedido de desculpas.

Hoje é dia da luta, luta daquelas mulheres que, ainda no século XX, foram às ruas e se manifestaram por melhores condições de vida e trabalho.

Hoje é dia de luto por aquelas operárias que morreram no incêndio de uma fábrica em que trabalhavam por condições e salários desrespeitosos

E vocês que não entendem o porquê da gente não aceitar o "parabéns", vocês que acham que a gente tá levando muito a sério essa "brincadeira" de ser feminista, vocês que chamam qualquer mulher que não sorria pros seus "elogios" de mal-amada, de feminazi, de puta, de vadia, vocês precisam entender que o dia internacional da mulher não é dia pra você, homenzinho, brilhar e conquistar garotinhas com um discursinho machistinha disfarçadinho de parabéns.

Hoje é dia de luta.


segunda-feira, 2 de março de 2015

Dreams



Do you know when you put in your head you want something, even if it seems unreachable, and you just can't let it go?
The path is tremendously long, you know it, but you keep going towards that direction.
You're kind of lost, so you decide to look behind and you see that every single thing you did until now you did with that goal in mind, but the initial reasons for you to want that, don't seem to make sense anymore.
You forget why you're doing what you're doing. You feel like Gump when asked why he's running. Just like him, you keep running. Maybe it became the only thing you can do.

And suddenly, you're not only uninspired. You're also tired. So tired you keep staring at your feet.
You feel for the first time that it's not that you don't want it anymore, you just can't keep wanting it.

So you decide to say farewell to the road, but you know the word "goodbye" only means something if it's said eye to eye, so you face, for what you think it's the last time, what's in front of you.

Surprise! Your dream is so close you can almost touch it, and even though you're not the same person from the beginning of the journey, the dream is still here intact, unbroken, unimpaired, about to come true.
You find out that you may have changed, but not your dream..

You talk to the kid that used to dream that dream, and listening to her, so proud of where you are, makes you realize:

You didn't just put that in your head, you put that in your heart, and that's what's guided you, even when giving up was tempting.
Now that you're here, it almost feels like the dream is not that big, until you realize it's not the dream that got smaller, you're the one who grew up.

So don't give up. Make that dream come true.
Dreams are not the end of the line.
Dreams are fuel.
When the dream come true, refuel.