sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Primeiro encontro.

Se você não tivesse puxado o meu braço porque vinha um carro na nossa direção antes mesmo de completarem-se 10 minutos do nosso segundo "oi", talvez a sua falta de jeito me incomodaria.
Se os segundos que os seus olhos pararam nos meus tivessem demorado meio segundo a menos, talvez eu estaria reclamando da sua incapacidade de me olhar sem ficar sem graça.
Se os silêncios constrangedores tivessem sido quebrados por mim e não pela sua voz quase sussurrada, talvez eu diria que você é sem-atitude.
Se você não ficasse com o braço, rígido, colado no meu todas as vezes em que eu esbarrei o meu braço no seu de propósito, talvez o fato de você não agarrar a minha mão me diria que você tem medo de mim.
Se quando a gente parou em frente á vitrine da loja de violões usados, eu não tivesse visto o seu reflexo no espelho encarando o reflexo dos meus olhos recém-tirados de um takamine de 54,000 ienes, eu teria reparado mais em quanto a gente não tem nada a ver.
Se a gente não tivesse passado três horas rindo das frases aleatórias que você sabe em português, talvez eu me importaria mais com o fato de que você talvez jamais conseguirá falar uma frase composta por mais de 5 palavras na minha lingua materna.
Se você não ficasse com um sorriso idiotamente lindo toda vez que eu completava o nome de um lutador brasileiro que você admira do ufc, eu ficaria com mais raiva de você se surpreendendo ao ver que eu sei tanto quanto você de um esporte que, ao seu ver, é masculino.
Se a gente não tivesse cantado axé em pleno cruzamento lotado de uma rua de Tóquio, com vários olhos japoneses julgando a nossa falta de respeito pela ordem pública, eu talvez diria que você é igual á todos eles.
Se você não tivesse me arrastado para comprar dvds regraváveis em uma segunda loja de oito andares, porque na primeira de nove andares, dentre as sete marcas que tinham lá, nenhuma era a que você queria, talvez eu não teria reparado que em cada escada rolante que a gente pisou, você fazia questão de pisar num degrau antes do meu, só para se virar de frente para mim.
Se a minha vontade de te ver de novo fosse menor do que o tempo que a sua mão encostou na minha na hora do aperto de mão mais desastroso da face da terra, eu não estaria aqui escrevendo isso tudo para você, tentando me convencer de que se você não me chamar para sair de novo, eu mesma chamo você.

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