sábado, 11 de abril de 2015

Semáforo


Nunca passava por ali. Era uma das partes mais feias da cidade.
Mas um amigo havia se mudado pra um bairro próximo dali e eu estava ajudando na mudança.
A única vez que fui lá foi quando marquei um encontro com uma garota cujo nome eu mal lembro como se pronuncia, apesar de ainda lembrar de como se escreve.
Eu até poderia ter tentado levar aquela história adiante, mas estou certo de que não haveria futuro.
Ela até que era legal, mas não sei se era quem eu tanto procurava.

Eu me lembrava do número da casa dela, era uma sequência de algarismos fácil de decorar, resolvi desacelerar e passar devagar pra ver se ainda reconhecia o local.
Ela mora bem em frente ao semáforo, que por sinal estava fechado.
Encarei o portão da casa dela por alguns segundos e logo voltei a minha atenção ao semáforo.

Foi nessa hora que ela surgiu, bem na minha frente, atravessando a rua com os longos cabelos ao vento, andando levemente apressada, mais bonita do que eu me lembrava.
Eu, que nunca pensava nela, senti uma súbita vontade de que ela me enxergasse atrás do vidro do carro.
Se não conseguisse, que pelo menos olhasse pro carro e se lembrasse de que já saiu com um cara que dirigia um igual àquele.
Abri a janela do lado do passageiro, lugar que ela ocupou uma vez, na esperança de que ela olhasse para trás, pelo menos uma vez antes de entrar em casa.
Ela se virou apenas para se certificar de que havia trancado o portão.
Acho que vi os olhos dela em minha direção.
Mas ela dedicou tão poucos centésimos que não tenho certeza se ela me viu, ou se viu o meu carro.
Ouvi a buzina do carro de trás. O sinal abriu.

Não tive escolha, a não ser seguir em frente.




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