domingo, 15 de março de 2015

Sermão de flores



Esses dias eu tava aconselhando uma amiga e ela disse o que, provavelmente, foi o elogio mais bonito que alguém podia ter feito. Ela disse:
"Amiga, obrigada pelo sermão de flores.
Normalmente, quando alguém vai dar sermão, parece que a pessoa tá querendo te tacar pedras, o seu sermão não. Parecia que você estava me oferecendo flores."

 Essa expressão sermão de flores ficou na minha cabeça.
Aí eu comecei a relembrar de todos os conselhos que já me deram.

Lembrei de quando todo mundo tentou me ensinar a andar de bicicleta sem rodinhas, dizendo: "faz assim ou você vai cair", "se você frear do nada você vai meter a testa no chão", etc etc
Foram conselhos bons, mas mesmo com eles, eu não aprendi a andar de bicicleta sem rodinhas.
Só o meu avô, com o pouco português que sabia, conseguiu me fazer perder o medo de andar de bicicleta sem rodinhas.
Ele disse algo que se assemelha com isso:
"Bicicleta tombou, equilibra com o guidão" e depois, sem maiores explicações, ele me deu um empurrãozinho e disse: "vai!", e eu fui.

Lembrei de todas as vezes que os meus pais aconselharam à mim e ao meu irmão sempre demonstrando preocupação e nunca autoritarismo, de forma que a gente nem percebia que eles estavam aconselhando a gente.
Nunca ouvi da minha mãe, por exemplo, "você não vai", quando dizia à ela que queria sair pra qualquer lugar que fosse.
Ela me perguntava: "Julie, será que é seguro?" "vai ter um responsável?" "quem vai dirigindo?" "leva o celular" "me avise quando chegar lá".
De forma que eu, sempre, antes de fazer qualquer coisa, pergunto à ela, mesmo já sendo maior de idade, mesmo sabendo que ela vai deixar, e, várias vezes, deixei de ir à um lugar sem que ela precisasse me proibir, só por ela me perguntar se eu não achava perigoso, me fazendo ver que, de fato, havia muito risco de dar ruim.

E eu acho que é a falta disso que complica a gente, sabe?

A gente se acostumou a dizer que se não levar casaco o outro vai gripar, em vez de dizer que se levar casaco, o outro vai se manter quentinho.
As pessoas falam que votam em A porque quem vota em B é burro.
Em vez de falarem o porquê de votarem em A, as pessoas preferem falar o porquê de não votarem em B.
Te dizem que você não vai chegar onde quer porque está sendo idiota, em vez de dizerem que sabem que você consegue chegar onde quiser porque é dono de muitas qualidades e que confiam em você porque você é capaz e merecedor.

Conselhos e sermões não foram feitos para mostrar para o outro que ele está errado, mas para mostrar o quanto ele pode dar certo.
Não foram feitos para que o outro aja exatamente como você agiria em determinada situação, por isso não recebemos nem damos conselhos para desconhecidos: o melhor conselho é quando a gente mostra pra pessoa o melhor que ela tem e que muitas vezes ela mesma não vê, assim, ela não faz nada que já não faria, mas faz aquilo que sempre esteve dentro dela, e que por descuido ou hipermetropia nunca enxergou. Conselhos e sermões são sinônimos de cuidado e resultado de muita observação.

Na maioria das vezes, conselhos e sermões são meros empurrõezinhos que dão aquela sensação de "eu acredito e confio que você fará o melhor para você".



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