terça-feira, 9 de junho de 2015

Sobre sorvete


Se eu não tenho medo de estar vulnerável?

Meu amor, pensa numa criança de 4 anos que se perdeu da mãe no supermercado...
É assim que eu me sinto.
E eu fico aqui na esperança de que nesse grande supermercado que é a vida, assim como a mãe, você esteja procurando desesperadamente pela criança (no caso, por mim, nessa comparação maluca).
Mas ao mesmo tempo, eu fico com medo da criança, vulnerável do jeito que está, sair correndo em direção a qualquer pessoa mal-intencionada, porque oras, é uma criança de 5 anos, e ela ainda não entende bem a vida, e pessoas mal-intencionadas estão em todas as esquinas oferecendo sorvetes, prometendo que vão ajudar a encontrar a mamãe.

Aí eu me pergunto:
Será que você é um estranho?
Se for, será que você é um estranho mal-intencionado?
Ah, existe a chance de você ser um estranho bonzinho, que vai me ajudar a encontrar a minha mãe, não?

Pronto, você não é mais a minha mãe nessa metáfora confusa.
Agora você é o estranho.

Mas aí eu me lembro que eu não tenho 4 anos.
Que eu já sou bem grandinha e capaz de recusar sorvete de estranhos.

Mas e se estranha for a vida? 
Afinal, o que eu sei dela? Parece que a cada dia sei menos.
Pronto, você não é mais o estranho.
A vida é uma estranha.

Será que a vida está me oferecendo um sorvete e eu estou hesitante em aceitá-lo, só porque eu não sei a procedência desse sorvete? 
Será que esse sorvete não vai me fazer mal? 

Pronto, você virou o sorvete agora.
E eu gosto de sorvete. 
Sorvete me faz feliz.

Minha mãe só diz que não é bom tomar sorvete quando a garganta estiver doendo, mas ela sabe como eu gosto de sorvete, e mesmo com a garganta doendo ela me deixa tomar. Só que ela diz pra eu tomar aos pouquinhos, pra não ir esganada pra cima do sorvete porque assim, eu tomo sorvete sem comprometer a minha garganta.

Garganta, nesse caso, é o meu coração.
Você ainda é o sorvete.
E eu nem sei se essa história de que tomar sorvete piora uma garganta que está doendo foi comprovada cientificamente, mas a minha mãe falou, tá falado.

Aliás, eu acho que a criança de 4 anos devia ser que nem eu e ouvir mais a mãe dela.
Principalmente quando ela diz para não falar com estranhos, nem que eles ofereçam sorvete.

Ainda bem que eu não sou uma criança de 4 anos.
Ainda bem que você não é um estranho. 
Ainda bem que agora você é sorvete.

E, quando alguém me perguntar se eu não tenho medo de estar vulnerável, a minha resposta será simples:

-Eu gosto de sorvete!










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