sexta-feira, 20 de maio de 2016

Desabafo

Eu queria muito que você visse o caco que eu tô.
Desde que você se foi, só sobrou gente vazia, que quer pouco, quase nada.
Coisa que gente que nem a gente nunca vai entender.
Porque a gente sempre quis tudo, mesmo quando o muito que a gente tinha não cabia no abraço.
A gente sempre precisou de mais que o infinito pra sentir completude.
Mas eles se satisfazem com miséria.
E eu sinto falta de me doar.
De me entregar de corpo e alma, sabendo que quem me receber vai saber cuidar.
Agora eu vejo esse monte de gente que faz fila para perder o meu tempo.
O medo de nunca mais achar alguém que me transborde me preenche de vazio.
Eu queria alguém que soubesse amar com cada poro, que transpirasse paixão.
A sua eloquência me deixou cega para tudo o que não tem coração. 
Eles não conseguem me acompanhar.
Por mais que tentem, a intensidade daquele nosso ritmo fez moradia dentro da minha pele.
E eles se aproximam orvalhando, mas evaporam com o calor que eu emano. Eles não sabem chover.
Que nem você que lavava tudo por onde passava.
Que me causava vendavais.
Que se misturavam com o furacão aqui dentro.
E eu não posso arrancar do peito esse furacão. Porque esse furacão sou eu.
Tirar isso de mim envolveria me tirar de mim. E eu não posso.
Não quando eu me lembro que você nunca tirou nada de mim.
Sempre foi troca.
A falta que eu sinto é da troca. Sem a sua energia vindo de você pra mim e a minha indo de mim pra você. Eu me sinto oca.
Eu tenho berrado pra sentir ressonar por dentro, mas os meus berros tem quebrado as minhas paredes.
O caco que eu disse no começo.
Sinto a sua falta.




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